Pergunta 1. Qual é o grande objetivo do homem?
Resposta. O grande objetivo do homem é glorificar a Deus e gozar dele para sempre.
Pergunta 2. Qual é seu único consolo na vida e na morte?
Resposta. O fato de que não sou meu, mas que pertenço — de corpo e alma, na vida e na morte — a meu fiel Salvador, Jesus Cristo.
Essas palavras – a abertura dos catecismos de Westminster e de Heidelberg – encontram eco em muitos de nossos credos e declarações de fé. São conhecidas por meio de sermões e livros, porém a maioria das pessoas desconhece sua fonte e certamente nunca as memorizou como parte dos catecismos dos quais derivam.
Atualmente, muitas igrejas e organizações cristãs publicam suas “declarações de fé”, as quais delineiam suas crenças. Mas, no passado, esperava-se que documentos dessa natureza fossem biblicamente tão ricos e elaborados com tanto cuidado que seriam memorizados e usados para o crescimento e a formação cristã. Eram escritos em forma de perguntas e respostas, e denominados catecismos (do grego katechein, ou seja, “ensinar oralmente ou instruir com as palavras da boca”). O Catecismo de Heidelberg (1563) e os Catecismos Menor e Maior de Westminster (1648) estão entre os mais conhecidos, e servem como padrão doutrinário de muitas igrejas no mundo de hoje.
No presente, a prática da catequese, especialmente entre os adultos, foi quase completamente perdida. Os programas modernos de discipulado concentram-se em práticas como estudo bíblico, oração, comunhão e evangelismo, e, algumas vezes, podem ser superficiais no que diz respeito à doutrina. Em contraste, os catecismos clássicos levam os estudantes a examinar o Credo Apostólico, os Dez Mandamentos e a Oração do Senhor — um perfeito equilíbrio entre teologia bíblica, ética prática e experiência espiritual. Ademais, a disciplina catequética da memorização leva os conceitos mais para o fundo do coração e, naturalmente, faz com que os estudantes sejam mais responsáveis em dominar a matéria do que nos cursos típicos de discipulado. Finalmente, a prática de formular perguntas e respostas leva os instrutores e os alunos a um processo naturalmente interativo e dialógico de aprendizado.
Em suma, a instrução catequética é menos individual e mais comunitária. Os pais podem catequizar seus filhos. Os líderes de Igreja podem catequizar os novos membros com catecismos menores e os novos líderes com catecismos mais extensos. Devido à riqueza do material, as perguntas e respostas catequéticas podem ser integradas ao próprio culto público, em que a Igreja, como corpo, confessa sua fé e responde a Deus com louvor.
Como perdemos a prática da catequese nos dias de hoje, “é extremamente comum que as marcas das congregações evangélicas atuais se caracterizem por pequenas pinceladas superficiais da verdade, noções confusas sobre Deus e piedade, e negligência na reflexão acerca das questões da vida — quanto a profissão, comunidade, família e Igreja”.[1]
Existem muitos catecismos antigos, excelentes, atestados pelo tempo. Por que, então, dedicar-se a escrever novos catecismos? Na verdade, algumas pessoas podem suspeitar da motivação de qualquer um que queira fazer isso. Porém, a maioria das pessoas não se dá conta de que constituía uma prática considerada normal, importante e necessária as Igrejas continuamente produzirem novos catecismos para o próprio uso. O Livro de Oração Comum da Igreja Anglicana incluía um catecismo. As igrejas luteranas tinham o Catecismo maior e o Catecismo menor de Lutero (1529). As antigas igrejas escocesas, embora tivessem o Catecismo de Genebra, de Calvino (1541), e o Catecismo de Heidelberg (1563), prosseguiram produzindo e utilizando o Catecismo de Craig (1581), o Catecismo Latino de Duncan (1595) e o Novo Catecismo (1644), antes de, por fim, adotarem o Catecismo de Westminster.
O pastor puritano Richard Baxter, que ministrou em Kidderminster, cidade do século XVII, queria treinar os chefes de família a, sistematicamente, instruir seus lares na fé. Assim, ele escreveu seu Catecismo da família, que foi adaptado para a capacidade de seu povo e trouxe aplicação bíblica a muitos assuntos e questões que seu povo enfrentava na época.
Os catecismos eram escritos com pelo menos três propósitos. O primeiro era apresentar uma exposição abrangente do evangelho — não só para explicar claramente o que é evangelho, mas também para mostrar os elementos constitutivos em que se baseia, como, por exemplo, as doutrinas bíblicas de Deus, da natureza humana, do pecado, e assim por diante. O segundo propósito era fazer essa exposição de um modo que os erros, as heresias e as falsas crenças da época e da cultura fossem abordados e contrapostos. O terceiro propósito, mais pastoral, era formar um povo distinto, uma contracultura que refletisse a semelhança de Cristo, não somente no caráter do indivíduo, como também na vida comunitária da Igreja.
Quando analisados em conjunto, esses três propósitos explicam por que os novos catecismos têm de ser escritos. Conquanto nossa exposição da doutrina do evangelho tenha de estar alinhada com os catecismos mais antigos e fiéis à Palavra, as culturas mudam com o tempo, assim como os tipos de erro, tentação e desafio ao evangelho imutável, de modo que as pessoas têm de estar equipadas para enfrentá-los e resolvê-los.
O Catecismo Nova Cidade tem apenas 52 perguntas e respostas (e não as 129 de Heidelberg ou as 107 do Breve Catecismo de Westminster). Assim, temos apenas uma pergunta e uma resposta para cada semana do ano, o que o torna mais simples para se encaixar nos calendários das igrejas e acessível para pessoas com horários mais apertados.
O Catecismo Nova Cidade se baseia nos – e é adaptado dos – Catecismo de Genebra, de Calvino, Catecismos de Westminster (Breve e Maior) e, especialmente, Catecismo de Heidelberg. Isso representa uma boa exposição a algumas das riquezas e alguns entendimentos que perpassam todo o espectro dos grandes catecismos da era da Reforma, na esperança de estimular as pessoas a mergulhar nos catecismos históricos e manter o processo catequético por toda a vida.
Organiza-se em três partes, com vistas a facilitar o aprendizado em blocos, incluindo algumas divisões úteis:
Primeira Parte: Deus, criação e queda, lei (20 perguntas)
Segunda Parte: Cristo, redenção e graça (15 perguntas)
Terceira Parte: Espírito, restauração e crescimento em graça (17 perguntas)
A exemplo do que acontece na maior parte dos catecismos tradicionais, um versículo bíblico acompanha cada pergunta e resposta. Além disso, cada pergunta e cada resposta são seguidas por um breve comentário extraído dos escritos ou dizeres de um pregador do passado, como também pelo comentário de um pregador contemporâneo, a fim de ajudar os estudantes a meditar e pensar a respeito do tópico que está sendo examinado. Cada questão termina com uma breve oração original.
Embora, à primeira vista, possa fazer o conteúdo parecer menos acessível, a linguagem dos textos originais foi mantida tanto quanto possível nos comentários históricos. Quando as pessoas se queixaram a J. R. R. Tolkien sobre a linguagem arcaica que às vezes empregava, ele respondeu que a linguagem carrega consigo os valores culturais e, portanto, o uso das formas mais antigas não se explicava por nostalgia, mas por uma questão de princípio. Ele acreditava que os modos mais antigos de falar transmitiam modos mais antigos de entender a vida, os quais as formas modernas não conseguem transmitir, porque a linguagem moderna está impregnada de uma visão moderna da vida.
Por essa razão, exceto nos casos em que as palavras não estejam mais em uso corrente, tornando-se, assim, incompreensíveis (nesse caso, elas foram substituídas por elipses), a linguagem e a ortografia (no original em inglês) dos autores originais foram mantidas nos comentários históricos. Ocasionalmente, essa linguagem se reflete também nas perguntas e respostas em que as formas mais poéticas ajudam na memorização.
O Catecismo Nova Cidade consiste em 52 perguntas e respostas, de modo que o jeito mais fácil de usá-lo é memorizando uma pergunta e uma resposta a cada semana do ano. Como tem intenção dialógica, é melhor aprendermos aos pares, em família ou em grupos de estudo, capacitando-nos a treinar uns aos outros nas respostas, não só uma de cada vez, mas, quando tiver aprendido dez delas, repeti-las, depois vinte, e assim por diante.
O versículo da Bíblia, o comentário escrito e a oração associados a cada conjunto de pergunta e resposta podem ser usados como instrumento devocional em determinado dia da semana, a fim de ajudá-lo a refletir e meditar sobre as questões e aplicações que surgem das perguntas e respostas.
Os grupos podem decidir dedicar os primeiros cinco a dez minutos do tempo de estudo a olhar, em conjunto, apenas uma pergunta e uma resposta, completando, assim, o catecismo em um ano, ou talvez prefiram estudar e aprender as perguntas e respostas em um período previamente combinado, como, por exemplo, decorando cinco ou seis perguntas por semana e se reunindo para fazer perguntas uns aos outros e discutir as questões, como também os comentários que as acompanham.
Existe uma variedade de métodos para guardar na memória os textos, e algumas técnicas são mais adequadas a certos estilos de aprendizagem que outras. Alguns exemplos incluem:
Leia em voz alta a pergunta e a resposta, e repita, repita, repita.
Leia a pergunta e a resposta em voz alta, e tente repeti-las sem olhar. Repita.
Leia em voz alta todas as perguntas e respostas da Primeira Parte (depois da Segunda Parte e, em seguida, da Terceira) enquanto caminha de um lugar para outro. A combinação de movimento e fala fortalece a capacidade da pessoa de se lembrar do texto.
Recorde o que você decorou, dizendo todas as perguntas e respostas da Primeira Parte (depois da Segunda e, em seguida, da Terceira Parte), e escute-as durante a prática de atividades cotidianas, como, por exemplo, exercícios físicos, tarefas caseiras e assim por diante.
Anote as perguntas e respostas em cartões e afixe-as em um lugar que você visualiza com frequência. Leia-as em voz audível sempre que os visualizar.
Faça cartões de memorização com a pergunta de um lado e a resposta do outro, e teste a si mesmo.
Escreva a pergunta e a resposta. Repita. O processo de escrever ajuda a capacidade da pessoa de relembrar o texto.
Treine as perguntas e respostas com outra pessoa sempre que possível.
Em sua carta a Gálatas, Paulo escreve: “E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui” (Gl 6.6). A palavra grega para “o que é instruído” é katechoumenos, aquele que está sendo catequizado. Em outras palavras, Paulo está falando sobre um corpo de doutrina cristã (catecismo) que foi ensinado a eles por um instrutor (aqui a palavra é catequizador). As palavras “todos os seus bens” provavelmente significavam apoio financeiro também. À luz disso, a palavra koinoneo — que significa “compartilhar” ou “ter comunhão”— torna-se ainda mais rica. O salário de um professor cristão não deve ser visto apenas como pagamento, mas como uma “comunhão”. A catequese não é só mais um serviço a ser pago, mas uma rica comunhão e um mútuo compartilhamento dos dons de Deus.
Se voltarmos a essa prática bíblica em nossas igrejas, redescobriremos que a Palavra de Deus “habita ricamente em nós” (ver Cl 3.16), porque a prática da catequese leva a verdade para o fundo dos corações, de modo que pensemos em categorias bíblicas tão logo consigamos arrazoar.
Quando meu filho Jonathan era bem novo ainda, minha esposa, Kathy, e eu começamos a ensinar-lhe um catecismo infantil. No começo, trabalhamos apenas com as três primeiras perguntas:
Pergunta 1. Quem fez você?
Resposta. Deus.
Pergunta 2. O que mais Deus criou?
Resposta. Deus criou todas as coisas.
Pergunta 3. Por que Deus criou você e todas as coisas?
Resposta. Para sua própria glória.
Certo dia, Kathy deixou Jonathan na casa da babá. A certa altura, a cuidadora descobriu que Jonathan olhava pela janela. “Em que você está pensando?”, perguntou ela. “Em Deus”, respondeu meu filho. Surpresa, retrucou: “O que você está pensando sobre Deus?”. Então, ele olhou para a moça e replicou: “Pensava em como ele fez tudo para sua própria glória”. Ela, então, acreditou ter um gigante espiritual em suas mãos! Um menininho, olhando pela janela, contemplava a glória de Deus na criação!
O que realmente aconteceu, obviamente, foi que a sua pergunta o estimulou a recuperar o esquema de perguntas e respostas. Ele respondeu com o catecismo. Certamente ele não tinha a mínima ideia do que seria a “glória de Deus”. Mas o conceito estava impregnado em sua mente e em seu coração, esperando para se conectar a novas perspectivas, novos ensinamentos e novas experiências.
Essa instrução, disse Archibald Alexander, teólogo de Princeton, é como lenha numa fogueira. Sem o fogo — o Espírito de Deus —, a lenha em si não produzirá uma chama aquecedora. Mas, sem o combustível, também não pode haver fogo, e é nisso que se resume a instrução catequética.
1. Gary Parrett and J. I. Packer, Grounded in the Gospel: Building Believers the Old-Fashioned Way (Grand Rapids, MI: Baker, 2010), 16.